terça-feira, 4 de julho de 2017

Por: Gustavo Santos*

O filme “Dr. Fantástico”, dirigido pelo cineasta Stanley Kubrick e lançado em 1964, apresenta as configurações, em tom jocoso, do período conhecido como Guerra Fria, quando os grandes sistemas políticos mediram esforços em diversas esferas. Nesta obra, a trama se inicia com o inesperado ataque soviético em território americano, que, por consequência, exigia retaliação máxima, de forma a eliminar os possíveis danos.

É nessa perspectiva que se apresentam algumas personagens fundamentais, como o general Ripper e o comandante Mandraque. O oficial de maior patente encontra-se enfurecido com a guerra e emite alerta de emergência, alegando retaliação ao ataque dos “russos”. Comando atendido, 34 aviões portadores de ogivas nucleares são enviados em direção ao bloco comunista, com ordens de lançar os mísseis imediatamente. Essa cena, particularmente, remonta à Crise dos Mísseis em Cuba, dois anos antes da exposição da obra, quando caças americanos entraram em solo soviético, levando a extinta URSS a instalar mísseis em Cuba sob a iminência de ataque, a poucos quilômetros dos Estados Unidos.

Passado algum tempo, o comandante Mandraque percebeu, através do rádio, que o general Ripper havia inventado toda a história de ataque dos soviéticos, a fim de implantar por sua própria conta as ordens de invasão à URSS. Nesta parte, a crítica do filme é muito explícita, representando toda a histeria militar que dominava os EUA e sua perseguição aos “comunas”. Ripper, em alguns momentos, faz alusão a teorias extraordinárias sobre como os soviéticos estariam travando a guerra, como envenenamento da água a partir de processos como fluorização.

Noutro momento, dentro da Sala de Guerra do Pentágono, o filme apresenta o excesso de cuidados que os americanos tomavam, chegando a ultrapassar o comando do presidente a fim de planejar veloz retaliação. O responsável pela Força Aérea fornece dados de como seria impossível parar os aviões enviados por Ripper, mas este representa o ápice do medo partilhado na sociedade americana. Para ele, talvez um ataque tão extensivo não fosse ruim, afinal, destruiria grande parte do arsenal disposto pelo inimigo mordaz. O presidente, também representado de forma cômica, apresenta-se um homem indeciso e que não sabe o que fazer se a iminência de uma guerra nuclear for superada.

É neste mesmo local que é vista a aparição do embaixador soviético, representado mais uma vez de maneira caricata. Um homem gordo, feio, e que não parecia muito eficaz no que fazia, sendo confuso muitas vezes. A presença do primeiro-ministro da URSS também remonta à crítica abordada no filme, alegando que este vivia embriagado e sob a companhia de mulheres, limitando-se de seu cargo. Outra personagem curiosa é o cientista “Fantástico”, um alemão, que, implicitamente, não conseguia se desgrudar das amarras nazistas, chegando a confundir muitas vezes o presidente americano com “Mein Fuhrer”, assim como via necessidade de prestar o movimento característico dos militares alemães.

Após o comandante Mandraque conseguir o único código possível para frear o ataque americano, já com o general Ripper morto, resta apenas um avião ainda em território inimigo. Sua tripulação, retratada desde o início do filme, representa a população estadunidense, estupefata com a real possibilidade de sofrer consequências, mas que lutaria contra o maldoso inimigo, o Comunismo. Já no fim, um míssil consegue ser lançado e o filme acaba, quando a bomba explode em base soviética.

Sob a ótica do filme, é possível observar a crítica aos modelos de guerra implantados por ambos os sistemas. A corrida armamentista, espacial e de propaganda foram retratadas de maneira cômica durante toda a obra, assim como a detonação de uma bomba com tamanhas proporções representada mais pelo viés diplomático do que as consequências que esta traria. É notório, desta maneira, que nem todos os americanos concordavam com as decisões tomadas pelo Pentágono e pela Casa Branca, assim como criticavam a aversão dispersada pelo Governo contra os estereótipos de inimigos criados.


Gustavo Santos, Aluno do 3º Ano, do Colégio José Augusto Vieira (CJAV). 

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