segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Quando surgem os primeiros raios de sol na movimentada Lagarto, seus moradores cumprem um ritual. Entre bocejos, ainda em suas camas, ou ao pé do fogão ligam os seus rádios, uns à pilha, outros com maior sofisticação. Ao som da viola, canções sertanejas ou aos cochichos, modas e fofocas do cotidiano lagartense. Esporte, novelas, a casa que foi roubada, a briga de casal que acordou a vizinhança, o carro fumacê, os fogos de artifício ao romper da madrugada. Tudo em um curto espaço de tempo, do entardecer ao amanhecer do dia seguinte. Às 6 da manhã já é hora dos programas jornalísticos, a agitação política está em primeiro lugar. É um puxa daqui, puxa dali, informações opostas e um dilema: acreditar em quem?  Os ouvintes vão aceitando as que mais lhes convém.

Em meio aos debates surge uma ligação. Tem ouvinte no ar.

_ Alô quem fala?
Pergunta o apresentador.
¬¬_ Pedro Batista.
_ Quem?
_ Pedro poeta do bairro Ademar de Carvalho.

Nem era preciso perguntar, sua voz é inconfundível, assim, como a certeza de sua ligação. Os elogios são o ponto de partida e a cada lampejo os problemas e as soluções da cidade são levadas ao ar, é um buraco ali, é uma lâmpada queimada acolá. Suas angústias e esperanças, são transformadas em convidativas poesias. O telefone sai de cena, não o poeta. O cenário agora é outro, o centro da cidade ganha cores e personagens, ao longo do dia seu percurso é conhecido: Sobe rua, desce rua, de banco em banco, de praça em praça, de loja em loja. Pare! Atenção! Siga! Semáforo quebrado.  O trânsito já caótico de Lagarto se transforma em pura buzinação, mas, a organização está para começar. Pedro chegou para ajudar.

O cruzamento Laudelino Freire com Lupicínio Barros é o termômetro da cidade e o palco do Pedro, agora inventor. Unindo aspectos da física e da química, um ovo é sua orientação para o clima, um de tantos experimentos que sua mente sempre fértil está a produzir, entre os quais, rádios e seus estilos, pedras com semblantes, cocos decorativos, robôs e tantas outras engenhocas. Pasmem, elas funcionam! Ou pelo menos cumprem o que seu inventor, imagina para eles.

E assim ele vai levando a vida, ou seria a vida levando ele? Seja como for, sua presença não passa despercebida entre o corre-corre da cidade que outrora era ternura. Seus sorrisos são ouvidos em alto e bom som, suas caminhadas apressadas em meio ao povo impressionam. Seu olhar perdido ao vazio deixa um pedido: O desejo de ser atendido, como qualquer outro cidadão. Hoje é quase impossível imaginar um dia em Lagarto sem ver, presenciar ou ouvir, as andanças, façanhas e as palavras em tons de rimas de Pedro Batista. Um poeta lagartense.

1 comentários:

Moacir Poconé disse...

A grandeza da vida está muitas vezes na simplicidade das pessoas. Parabéns, Renato, pelo ótimo texto, que saúda uma personagem do povo de Lagarto. O verdadeiro símbolo dos rastros lagartenses. Abraços.