RASTROS LAGARTENSES

Grafite: arte ou vandalismo? Beleza ou poluição visual? Esse debate se tornou uma constante na sociedade para definir uma manifestação exposta em muros, prédios e fachadas, sejam públicos ou particulares. Longe de se encontrar uma unanimidade sobre o referido tema, façamos apenas um apanhado ao nosso entorno, para que possamos tirar nossas próprias conclusões.

Por mais despercebido que seja, qual cidadão residente ou apenas que passe costumeiramente pelas ruas da grande Lagarto que já não tenha se deparado com alguns grafites em diversas localidades? Existe um bom número de jovens que se aventuram nesta seara, colorindo e dando novos tons em foscos ambientes.

Um desses jovens atende pelo nome artístico de: Araujo Grafite. De infância humilde, nasceu no pacato povoado Queiroz, e desde cedo sentiu na pele uma educação familiar pautada no que poderíamos chamar de exílio domiciliar, e assim, até sua adolescência, esteve atrofiado aos cômodos de sua residência.


O tempo passou e seu afã por inéditas descobertas o fez um andarilho, provando dia a dia os sabores e dissabores das suas novas e perigosas aventuras. No final da década de 90, começava a pintar letreiros e propagandas, suscitando uma competência que parecia aflorar como um toque de mágica.

Araújo tomou gosto pela arte a partir de um livro didático (Foto: Arquivo Pessoal)

Mas foi nas aulas de História no colégio Frei Cristóvão de Santo Hilário, em contato com as radiantes imagens contidas em um livro didático de Mario Schimidt, que suas habilidades para área artística começavam a se desenvolver, já que o gosto pelos desenhos o fizeram debruçar sobre a possível realidade de se tornar um promissor artista plástico.

Em nenhum momento buscou por um grande artista no cenário nacional ou internacional como fonte de inspiração; pelo contrário, bebia de todas as fontes, fossem elas de grande importância ou de simples pichadores, e assim formava suas fantásticas ideias, que profissionalmente lhe acompanham desde os anos 2000.

Todo jovem, em sua carreira profissional, ostenta no percurso de suas vidas alguns sonhos a serem alcançados: uns não conseguem tamanha proeza, outros, com muito esforço, encontram a felicidade ao fim de suas jornadas. Marcelo Araujo, em poucos anos de labuta, conseguiu alcançar o seu maior objetivo: ser reconhecido em sua cidade. Hoje, sem dúvida, seu nome representa com méritos a arte lagartense.

No entanto, entre a realização constante presenciada em suas pinturas marcadas e marcantes em painéis, faixas, e telas, o sentimento de desânimo ronda o cenário deste artista, por não poder ter em mãos instrumentos aperfeiçoados para a prática do seu trabalho, em virtude dos altos preços na região Nordeste. Para romper esse obstáculo, Araujo se vale do que possui, e assim vai colorindo uma trajetória diferenciada e fascinante.

Painel de cantor baiano ganhou grande repercussão (Foto: Arquivo Pessoal)

Ao longo de 13 anos de carreira, já foram produzidas muitas imagens, que mesclam por alguns temas, entre eles: a natureza, o combate à poluição, os problemas causados pela globalização. Porém, em meio a tantos episódios, ainda sobra espaço para homenagens, uma das quais lhe proporcionaram grande repercussão causando uma avalanche de comentários nas redes sociais, sendo refletida pelo próprio homenageado em Salvador, através do twitter. Trata-se da imagem de Saulo Fernandes, ex-Banda Eva, destacada em um gigantesco painel, localizado no bairro Cidade Nova.

Outros projetos já fazem parte de seus pensamentos para um futuro bem próximo. Araujo pretende não apenas fazer grafite em Lagarto, mas também sobre Lagarto, em especial sobre a cultura, os elementos que simbolizam essas terras e os filhos que notavelmente colaboram com o engrandecimento da cidade. Será uma maneira de o artista homenagear a cidade que lhe viu nascer e crescer. Assim, suas imagens além de brilhantes do ponto de vista artístico, também estarão carregadas de uma identidade própria, simbolizada em seu sentimento de pertencimento às terras lagartenses.